Ainda se vão lembrar de mim...


Telmo Antunes entra em cena de garrafa na mão, de fato (sem casaco) e gravata mas completamente amarrotado e sujo. Fala bastante alto e de uma forma determinada mas ligeiramente embrulhada pelo álcool. Entre goles começa:


TELMO – Alguém se lembra de mim?
Algum dos senhores ou das senhoras, porque eu agora daqui donde estou não consigo distinguir muito bem, se lembra de mim?
Era o que eu suspeitava... já ninguém se lembra dos velhos poetas...
Eu não falo por mim. É que eu até nem sou poeta...
Alguém se lembra dos velhos escritores?
Alguém?
Também não...
Era, pois está claro, isso mesmo que eu suspeitava...
Incultos!

Respira fundo, tira um macaco do nariz e limpa a um lenço que tira do bolso da camisa:

TELMO – Eu também não sou escritor. Não olhem para mim com essa cara porque eu também não sou escritor... li umas coisas. Por acaso algumas até eram bem interessantes. Há malta com jeito, com estudos.
Sim, porque aquilo não sai assim da cabeça duma pessoa sem mais nem menos. Não é só pensar e zumba, já tá... é preciso estudos.
O meu pai queria que eu fosse doutor.
(...)
Tava maluco, só pode...
Eu quando tinha a vossa idade queria era cultura, muita cultura...
Ora vocês devem ter ai uns 18 ou 28, ou 38 anos...
Pois é. Eu com a vossa idade queria era cultura, e música, e meninas...
Cultura!
(...)
Já venho!


Foto roubada com carinho a Fatima Vargas...

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